Trabalho e Vida - Trabalho é Vida - por Ana Marchi

Artigo

29 Julho, 2019

Trabalho é Vida


Equilíbrio Vida e Trabalho. Em inglês, work-life balance.
O que tem de estranho nestas frases?

Embora seja uma expressão bem comum, "equilíbrio vida e trabalho" não faz o menor sentido, se nos dispusermos a analisá-la melhor. De uma certa forma, esta expressão está nos dizendo que não há vida enquanto trabalhamos e que trabalho e vida são coisas que não se conectam. Ou, que só vivemos quando saímos do trabalho. Será?

Talvez na época da revolução industrial, quando o trabalho era algo maçante, extenuante fisicamente, sem nenhum sentido do ponto de vista da realização pessoal, esta expressão fizesse sentido. Tanto é que as pessoas eram chamadas de mão-de-obra.  As empesas requisitavam apenas as mãos do empregado, metaforicamente, ou apenas o seu esforço físico. Seu cérebro e seu coração eram dispensáveis. O trabalho era tão chato e duro que não era considerado vida. 

Lembro-me da primeira vez que visitei uma indústria metalúrgica, ainda na faculdade de análise de sistemas. Fiquei meses pensando na cena que presenciei na área destinada ao derretimento e mistura dos metais, a então famosa fundição. Um calor infernal, cheiro horroroso, metal vermelho derretido, podem imaginar. E um dos empregados com meio corpo enfiado em um buraco estreito na parede, parecendo pegar algo lá de dentro. Ao vê-lo sair daquele buraco, totalmente coberto de fuligem, reafirmei minha crença na tecnologia: um dia não haveria mais trabalhos como estes. Graças aos robôs, nenhum ser humano jamais seria obrigado a se submeter a tal condição!!  

Num cenário como o descrito acima, trabalho não é vida. Trabalhos como estes certamente ainda existem. Muitas pessoas ainda encontram no trabalho apenas um meio de obter renda para suas necessidades básicas, mas muitos de nós já estamos trabalhando em um cenário totalmente diferente, em que a obtenção de renda está ocorrendo por meio de atividades que podem ser extremamente gratificantes como realização pessoal, nas quais nossos melhores dons podem ser utilizados.

Nos dias atuais, a maioria dos trabalhos requerem a nossa presença por inteiro. Nossas mãos podem até, em alguns casos, ser desnecessárias, mas nosso cérebro e nosso coração são indispensáveis.  Nosso cérebro, por sua capacidade de resolver problemas e criar soluções; nosso coração, por nos conectar emocionalmente e nos engajar naquilo que fazemos.

Neste novo cenário, como separar vida e trabalho? Não faz sentido. Nosso trabalho é vida pulsando, nos move, nos realiza, nos mantém interessados e com o nosso senso de competência estimulado.  E, portanto, pode ser fonte de enorme prazer.

No entanto, a OMS (Organização Mundial de Saúde) acaba de oficializar a Síndrome de Burnout, como doença, uma vez que está se tornando epidêmica. Essa síndrome é caracterizada como ocupacional, ou seja, resultante do estresse crônico no local de trabalho. 

Hum... Se o trabalho pode ser fonte de grande prazer e realização, como pode estar prejudicando a nossa saúde mental? Será que, assim como os trabalhos de antigamente prejudicavam nosso corpo físico, os de agora nos prejudicam psicologicamente?

Esta coluna pretende ser um espaço para a reflexão sobre como obter do trabalho o que ele tem de melhor, sem prejudicar nossa saúde física e mental. 

Já que não é mais possível separar trabalho e vida pessoal, talvez o que precisamos é dar sentido a tudo isso e encontrar a integração total de tudo que fazemos. Talvez nosso ideal seja descobrir um caminho para que tudo que fazemos esteja a serviço de nosso crescimento como pessoa e da nossa realização na vida. Sejam as horas dedicadas ao trabalho ou aquelas dedicadas a outras atividades. 

E para você? Que significado tem o seu trabalho? Já pensou sobre isso?