Storytelling e Business - A Arte que nos consola - por Max Franco
25 Janeiro, 2021
O fato é que a Arte existe e nos compreende, acalenta e inspira como poucas outras expressões humanas. Nas atualidades dos 20.21, tornou-se ainda mais fácil acessar alguma manifestação artística. É a arte instantânea, automática e, cada vez, mais customizada a fim de atender às demandas de cada público. Se quer ler um livro, simples: basta você baixar um livro no seu aparelho celular. Muitos, inclusive, são gratuitos. Se quer conferir um espetáculo de dança, um show de música ou determinadas orquestras filarmônicas, também não é complicado. O Youtube têm milhares à disposição. Quer assistir a filmes ou séries? Mais fácil ainda.
Essas práticas viraram algo tão natural que nem sequer nos lembramos do quanto são recentes. Há pouco tempo, era muito mais difícil o acesso a diversas manifestações artísticas. Eis uma das grandes maravilhas patrocinadas pelas tecnologias atuais. Elas democratizaram as oportunidades. Não de todo, mas muito.
Não quero fazer apologias a qualquer atitude de alienação, porém da mesma forma que não dá para ser o tempo todo good vibes em meio ao redemoinho no qual nos metemos, também não dá para estar ligado o tempo inteiro no 220. Todo mundo precisa de pausas.
E falando em pausas, nada melhor do que uma boa história, ou, na verdade, do que boas histórias, não importando a plataforma. Pode ser livro, série, filme, documentário…
Livros ainda são a melhor forma de aprender se divertindo (ou de se divertir aprendendo) que existe, ao lado de viajar. Neste período, alguns livros merecem recomendação. Entre eles, a primorosa adaptação em quadrinhos de Sapiens, a qual, invés de oferecer um café requentado, consegue acrescentar ainda mais sabor ao livro best seller de Yuval Harari.
O período foi propício para ler ou reler obras clássicas que ganharam status neste período por razões óbvias: "A peste", de Camus; "O príncipe", de Maquiavel; "O homem do subsolo", de Dostoievsky; "1984", do Orwell… obras que, de uma forma ou de outra, apresentam muita sinergia com o que a humanidade tem que lidar nos momentos atuais. Merecem destaque outras obras de autores contemporâneos, mas que reputam de uma escrita: "Labirinto do espíritos", do Carlos Ruiz Safón; "O crepúsculo e aurora", do Ken Follet; "A espada dos reis", do Bernard Cornwell; "Uma terra prometida", do Barack Obama e (qualquer coisa) escrita pelo Cristovão Tezza. Em particular, recomendo "Juliano Pavolini" e " O filho eterno".
2020 e 2021 não estão provendo, particularmente, uma safra muito sortida de filmes. Alguns nem sequer foram para os cinemas, esteando diretamente nos canais pela internet. Mulher-Maravilha 1984 e Tenet, do velho e bom Nolan, chamaram atenção, mas foram as plataformas de streaming que mereceram maior atenção neste período. Filmes como "O poço", "Rosa e Momo", "Old Guard", "O rei", "A casa", "A voz suprema do blues", "O diabo de cada dia", "Mank", "Resgate", "Enola Holmes", "Os 7 de Chicago" e o excelente "Céu da meia-noite", estrelado pelo veterano George Clonney.
Um filme recente que chama bastante atenção é "Soul", da Disney/Pixar. Mais um daqueles filmes que inspira risos às crianças e lágrimas aos adultos. E, além de lágrimas, reflexões. Afinal, Soul é uma produção da Disney que traz um protagonista negro. Iniciativa das mais atuais e pertinentes. Outra proposta de Soul é justamente questionar essa ideia de "propósito" tão onipresente nos tempos hodiernos, principalmente nos habitats corporativos. Soul apresenta um enredo subversivo para os nossos dias. Sartre decerto aprovaria, porque a influência do existencialismo é clara. Para os roteiristas de Soul, ninguém nasce com com um propósito pétreo e cravado na alma até o fim da vida. Não precisamos nem de propósitos enormes, "de saltar a vista", nem de persegui-los até o último instante. Propósitos podem e devem ser revistos. Propósito é escolha e não uma condenação eterna. Propósito é coisa que escolhemos, mas, depois podemos desescolher. Não somos escolhidos por eles da mesma forma que não há nada escrito ou determinante para cada um de nós. Somos - como diz Sartre - condenados à liberdade. Vale conferir.
O período recente, porém, foi pródigo em oferecer diversas séries que merecem a nossa atenção, seja porque prometem um bom divertimento, seja porque, várias, oferecem discussões atraentes e contemporâneas. Podemos citar diversas que têm essas características: "The boys", "Expresso do amanhã", "You", "Lúcifer", "Peaky Blinders", "Ozark", "The sinner", "The head", "The crown", "Último reino" e, ainda, dignas de nota, a season finale de "Vikings", a perfeita "Handmaid’s tale", a revelação "O Gambito da rainha", "Lupin", que é uma homenagem à literatura, "Mandalorian", a qual - dizem - que é mais Star wars do que os últimos Star wars e, é claro, a coqueluche do momento: "Cobra Kai".
A websérie baseada nos filmes da trilogia Karate Kid estreou em 2018 no YouTube e conta o que ocorreu com Johnny Lawrence (William Zabka) e Daniel LaRusso (Ralph Macchio), demonstrando que a rivalidade entre os dois nunca acabou. A série criada por Jon Hurwitz, Hayden Schlossberg e Josh Heald e foi comprada pela Netflix e já vai para a 4a temporada.
O sucesso de Cobra Kai se fundamenta nas mesmas bases do sucesso dos anos 80. Além de uma gorda dose de nostalgia, que garante o interesse dos mais velhos, temos discussões que têm atraído a atenção da galerinha jovem. Apesar de carecer de técnica apurada de karatê, o karatê está em pauta o tempo inteiro. Observamos as diferenças de postura entre os personagens que polarizam a história, como também conseguimos entender quais são os motivos que explicam os comportamento de cada um deles. Talvez esteja aí a razão pela qual Cobra Kai faz tanto sucesso: a humanidade identificada na complexidade dos personagens.
Livros, séries, filmes… O ser humano não mudou nada nesse aspecto. Sempre amamos histórias. Hoje, elas estão mais acessíveis, só isso!
De fato, enfrentar pandemias e isolamento sociais nunca é coisa fácil. Entretanto, imagina como seria sem estes alívios e consolos que hoje temos. Por sorte temos as tecnologias modernas e também temos os velhos contadores de histórias.