Storytelling & Business - Nada convence mais do que uma boa história - por Max Franco

Artigo

26 Janeiro, 2020

Romeu amava Rosalin, suspirava por Rosalin e sofria por Rosalin que tinha o defeito de ser casta em demasia.

Até o momento em que Romeu avistou - pela primeira vez - Julieta. Na mesma noite, Romeu já declamava os mais belos versos de amor debaixo do balcão da donzela. Ambos trocam as mais profundas juras de amor. No outro dia (segunda-feira), eles casam. Na terça, o casal tem o seu primeiro (e último) enlace amoroso. Na quinta, eles estão mortos de forma trágica.

O mais estranho nessa história toda é que muita gente enxerga essa narrativa como a mais bela história de amor já escrita. O que isso prova é que faz tempo que a humanidade padece de uma dificuldade crônica e coletiva de interpretação de texto. Afinal, nem mesmo Shakespeare deve ter escrito essa peça como uma apologia ao "amor a qualquer custo"! É bem mais possível que o William mais famoso que já existiu desejasse fazer uma denúncia, quem sabe um alerta direcionado aos jovens ou aos apressados.

É bem possível que o alter ego de Shakespeare nessa peça seja bem diferente daquele que pensamos. Ele deve ter se colocado no personagem de Frei Lourenço, que adverte a Romeu:

"Prudência! Quem mais corre mais tropeça".

No mesmo dia, pela tarde, os dois se casam às escondidas na cela de Frei Lourenço.

Romeu e Julieta não é uma ode ao amor, e sim à ordem e à sensatez. Quem age por impulso paga uma conta muito alta. Quem não se contém, ganha a desgraça como maior prêmio.

Não há nada de romantismo em ver dois jovens, ainda adolescentes, se matando por um amor reprovado pelas famílias que se odiavam. Entretanto - sei lá por qual motivo - essa foi a leitura que nos chegou dessa obra. Um texto mais revisitado na ficção do que a sessão da tarde reprisou a "Fantástica fábrica de chocolates"!

Mas, o que tem a ver tudo isso com o turismo e com Verona?

Absolutamente tudo!

Romeu e Julieta é ambientado em Verona. Shakespeare deve ter escutado essa história que já havia virado um relato popular na época. O bardo fez uso da lenda da forma que melhor sabia: ele deu forma ao mito. Ele empacotou à narrativa e a entregou soberba ao seu público cativo. As pessoas devem ter prendido a respiração no ato final e chorado uma Veneza inteira quando fecharam as cortinas.

E o que Verona fez com isso?

O que devia ter feito.

Chocolate da Julieta, chocolate de Romeu, casa de Julieta, balcão de Julieta, souvenir de Julieta, vestido da Julieta, música da Julieta… Verona observou que Julieta vendia melhor do que o Silvio Santos e não perdeu tempo em se apropriar da marca, potencializá-la e vendê-la sem moderação.

O turismo, é claro, foi quem mais ganhou com isso. Não há um só dia que Verona não seja visitada por causa dessa narrativa infeliz de amor.

Afinal, o turismo se alimenta de histórias.

Verona teve um dos melhores storytellers da história da humanidade ao seu favor. É estranho, porém, que a cidade jamais tenha se demonstrado grata ao seu maior patrocinador. Em Verona, por incrível que pareça, não há nem sequer umazinha estátua de Shakespeare.

Mas a casa dos Capuletto está lá com balcão e tudo.

A "verdadeira casa"? Os veroneses juram que sim.

Mas, quem quer a verdade, não é mesmo?

O turismo se alimenta de sonhos e de fantasia ou de verdades e planilhas Excel?

Tudo é uma história que se conta para persuadir, convencer, seduzir. Tudo storytelling.