O que é NFT e como ele talvez se encaixe na sua vida hoje - Inteligência Artificial para Negócios - por Fabiano Castello

Artigo

12 Fevereiro, 2022

No mês de dezembro almoçava com amigos e parte do almoço foi consumido com uma discussão sobre os tais NFTs. Olhares de "reprovação" partiram para o meu lado quando eu disse que não tinha o menor interesse em comprar NFT, da mesma forma que nunca comprei (e nem pretendo) comprar bitcoin!

NFT é mais um daqueles termos que começam a pipocar por todo lado de uma hora para outra, e que gera ansiedade nas pessoas: "todo mundo fala e eu não sei o que é nem como usar, mas meu competidor vai tirar vantagem disso, e eu vou ficar para trás". E dá-lhe antidepressivo, tomado em bocados várias vezes por dia. Achei então oportuno escrever a coluna deste mês explicando o que é esse tal de NFT, fazendo analogias e explicando de uma forma simples. Vamos lá?

NFT é uma acrônimo, uma sigla: significa "non-fungible token", ou "token não fungível". Vamos desmembrar para entender.

"Token" é uma palavra em inglês "adotada" na língua portuguesa. Explicar o que é merece uma coluna própria, mas vamos resumir. O conceito nasceu com o bitcoin, mais particularmente com a tecnologia que possibilita sua existência, o blockchain. Pense em token como um ativo digital, que pode ser negociado. Bitcoin é uma criptomoeda, mas o que transacionamos na verdade são tokens da rede bitcoin. Toda criptomoeda é um token, e aqui está a grande sacada: nem todo token é uma criptomoeda porque, a priori, podemos transformar qualquer coisa num ativo digital. Por exemplo, as próprias NFTs: são tokens, mas não criptomoedas. Já o "não fungível" tem uma tradução literal para o português, que eu asseguro que 90% dos entusiastas de NFT nem  sabem o que significa, porque é um português que não usamos no dia a dia. Algo "fungível" é algo que se consome ao longo do tempo, que é gasto. O "não fungível" é, então, algo que é permanente. Juntando as duas coisas ("token" e "não fungível"), uma NFT é, então, um "ativo digital permanente".

Vamos então para um exemplo real para entender o que é uma NFT, e a melhor forma de fazer isso é usando uma analogia com o mercado de obras de arte.



Em 2006 fiquei quase 2 horas sentado no chão do museu Reina Sofia em Madri, olhando Guernica, um painel de mais de 20 metros quadrados e a mais icônica obra de Pablo Picasso. Não sei quem é efetivamente o dono do painel, mas vamos assumir para efeito desta coluna que seja o próprio Museu Reina Sofia. Guernica é uma obra de arte física, real, e qualquer pessoa pode apreciá-la pagando a taxa de entrada do museu. Mas você também pode pegar a imagem acima, gravá-la no seu computador e colocar como fundo de tela, e pode apreciá-la todos os dias. Ter uma cópia de Guernica, seja uma gravura física, ou uma imagem digital, não faz de você o dono dela.

Digamos que o Museu Reina Sofia resolva criar uma NFT do Guernica. Como muitas pessoas terão interesse neste NFT o museu não vai vender o NFT, e sim fazer um leilão. Não tenho dúvida que seria vendido por muitos milhares de dólares[1].

O feliz comprador deste NFT pode passar no museu, pedir para embrulhar o quadro e levá-lo para sua casa? Não pode, porque ele não comprou o quadro, mas apenas o ativo digital NFT que representa o quadro. Ele somente pode fazer duas coisas: primeiro, ficar famoso por ter sido o comprador e, segundo, vender a NFT para alguém que esteja disposto a pagar para ficar famoso e dizer que é dono do NFT do Guernica.

Quem paga uma fortuna num quadro físico de um pintor famoso tem dois objetivos: deixar na parede de sua casa para apreciá-lo sozinho, ou comprá-lo para revender com lucro na transação (também há a questão de arte para lavar dinheiro, mas deixemos esta polêmica de fora). Com NFT é a mesma lógica, porém em vez de ser físico, é algo digital. Seja físico ou digital, em ambos os casos o valor do ativo é definido pela sua exclusividade, ou seja, pela escassez. Só existe um! Em qualquer tipo de coleção, seja de moedas, seja de figuras de jogador de futebol, as mais caras são as mais raras. É o mesmo princípio. Comprando uma NFT, você está pagando pela exclusividade para dizer que é o único dono, ou para vender mais caro no futuro e lucrar com a transação.

NFT cabe na sua vida? Depende. Faça a analogia das obras de arte. Você pagaria mais caro para ter exclusividade sobre algo que é único e somente você tem? Talvez não faça sentido para você, como não faz para mim, mas neste mundo materialista e consumista em que vivemos, fará sentido para muitas pessoas.

E em relação ao futuro? NFT, sendo um ativo digital, é algo que faz sentido por conta de um outro buzzword que está na moda: o Metaverso. Ideia antiga, porém requentada recentemente pelo Facebook, será assunto de uma coluna mais adiante.

Na minha visão pessoal, no mundo de hoje é importante acompanhar novidades e tendências, sem julgar o que é bom ou ruim, mas analisando quais impactos potenciais essas novidades e tendências podem acarretar principalmente nos nossos negócios. Principalmente, colocar isso ao longo do tempo. Me preocupa o fato de que muita gente já está falando em Metaverso e deixando de obter benefícios de tecnologias reais que estão maduras, e que podem ajudar nos negócios imediatamente, sendo o principal exemplo a inteligência artificial. Inovação é ótimo, mas não esqueça de não tirar os pés do mundo real.

[1] Em tempo, existe uma NFT do Guernica à venda no OpenSea, o maior mercado de negociação de NFTs, por cerca de USD3mil. Mas, assim como é possível comprar um quadro falso, será que este NFT é vendido pelos legítimos proprietários do Guernica?

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