Inteligência Artificial para Negócios - Um grande ponto de interrogação no futuro do Brasil - por Fabiano Castello

Artigo

12 Agosto, 2020

Assim como eu, você também deve estar desanimado. A economia já não ia bem e com a pandemia tudo ficou pior. Mas o que talvez seja mais preocupante não seja nem a situação atual: é a falta de perspectiva. O que nos reserva o futuro?

Notem que esta pergunta pode valer para as próximas eleições, mas a discussão que eu proponho é mais ampla: as próximas gerações, os próximos 30, 40 e 50 anos. 

Nem de longe discutir aqui assuntos amplos como aprovação do Fundeb, mecanismos de financiamento da educação básica, base nacional curricular e a profissionalização de docentes: livros inteiros podem ser escritos sobre cada um desses assuntos. Não, não. Aqui gostaria de falar sobre um assunto específico que é do presente e do qual depende o nosso futuro: STEM.

Mesmo quem não gosta de anglicismos não pode ignorar STEM. É um acrônimo que significa "science, technology, engineering and Mathematics", ou ciência, tecnologia, engenharia e matemática. O termo existe desde o começo da década passada, e foi cunhado pela Dra. Judith Ramaley, quando de sua passagem pela National Science Foundation. Ao contrário do que muitas pessoas acreditam, STEM não é coisa de gênio, ou seja, não é que apenas uma pessoa dominará todas essas áreas de conhecimento. Muito pelo contrário. STEM é considerado como a base para a maioria das profissões. Um agrônomo que não tem uma boa base de STEM provavelmente sobreviverá, mas um agrônomo com uma boa base de STEM será um excelente agrônomo. Colocando numa perspectiva mais ampla, é exatamente esta diferença que determina o progresso de um País. Pessoas melhor preparadas performam melhor individualmente e, coletivamente, trazem uma contribuição agregada muito maior.

"Hoje em dia é muito difícil encontrar uma carreira que não exija STEM de uma forma ou de outra, pelo menos matemática, senão ciências", afirma Nancy Bundt, diretora de programa da Math & Science Collaborative, sediada Allegheny[1].

"Um país essencialmente agrário listado entre os mais pobres do mundo, com infraestrutura praticamente inexistente, poucos recursos naturais e povo sem instrução, com taxa de desemprego de 25% da população em idade de trabalho, renda per capita anual de menos de US$ 100 e exportações de meros US$ 20 milhões". Se você pensou em Serra Leoa, considerado hoje o país mais pobre do mundo, se enganou. Essa é a descrição do Prof. Evanildo da Silveira[2] de como era a Coréia do Sul nos anos 1950. A mesma Coréia do Sul hexacampeã no Índice de Inovação Bloomberg até 2019. O que está por trás disso? Investimento maciço em educação, com foco em STEM. Em Seul, tem engenheiro saindo pelo ladrão!

A informação sobre o índice de inovação vem do próprio site da Bloomberg[3]. Curiosamente, a matéria fala sobre como a Alemanha é atualmente o país mais inovador do mundo.  O motivo, nas palavras de Bruno Vath Zarpellon, diretor de Inovação e Tecnologia da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha de São Paulo, entre outros é este: "a Alemanha hoje, na Europa, é um dos países que mais investe na educação STEM". Para quem se interessou pelo tema STEM há um relatório australiano interessante, de 2018, que faz uma comparação entre diversos países [4]. Para baixar o relatório veja as referências no final do texto.

É importante, no entanto, entender que a questão central não é o STEM, mas  o futuro do Brasil. Recentemente minha filha, que está na 4ª. série do ensino fundamental numa escola particular supostamente de boa qualidade, não conseguiu me explicar como se faz, no papel, uma conta de divisão simples. Minha esposa, professora aposentada de Língua Portuguesa, revoltava-se com o fato de que a maioria de seus alunos terminam o 9º. ano do ensino fundamental sem conseguir transmitir uma ideia para o papel e produzir um texto com começo, meio e fim. Sem a base não há STEM, e sem STEM não temos futuro.

Se você leu esta coluna supondo encontrar algo sobre "inteligência artificial para negócios", e acha que se enganou, não se preocupe porque você está no lugar certo: IA não existe sem STEM. Ainda que o nosso buraco seja muito maior.

Abraços! Até mais!


Referências

[1]https://www.post-gazette.com/news/education/2009/02/10/STEM-education-is-branching-out/stories/200902100165.

[2]https://www.sescsp.org.br/online/artigo/7992_O+EXEMPLO+DA+COREIA+DO+SUL

[3]https://www.bloomberg.com/news/articles/2020-01-18/germany-breaks-korea-s-six-year-streak-as-most-innovative-nation

[4] Freeman, B (2018) Securing Australia’s FutureSTEM: Country Comparisons. Consultant Report. ACOLA. Melborne. Recuperado da internet em 7/8/2020.  https://acola.org/wp-content/uploads/2018/12/Consultant-Report-Snapshots.docx.pdf

[5] O crédito da imagem é do site www.escolaeducacao.com.br

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