Cultura e Inovação - 8 Pilares - Liderança Engajada com Inovação - por Charles Schweitzer

Artigo

05 Agosto, 2019

Atendendo ao chamado da Inova Business School, passarei a escrever mensalmente um artigo e, começarei com a série "Os 8 Pilares da Inovação", 8 artigos, portanto. Neste segundo artigo, escreverei sobre a "Liderança Engajada com a Inovação", o segundo pilar:

1 Convicção para Inovar;
2 Liderança engajada com Inovação;
3 Equipe engajada com Inovação;
4 O Comitê de Inovação;
5 Tendências;
6 Processos que habilitam a Inovação;
7 Recursos que habilitam a Inovação;
8 Ambientes que habilitam a Inovação.

MODELOS MENTAIS

Vou começar com uma história pessoal, mas que diz muito sobre como o comportamento da liderança deve se transformar para habilitar a inovação. 

Eu preciso que você se coloque em contexto para entender esta história. Ela aconteceu entre 26 de abril de 2008 e 05 de maio de 2008. Nesta época o iPhone ainda não tinha sido inventado. Portanto, nem cogite apps e outros recursos e, lembre-se que o e-commerce ainda engatinhava. Isto posto e dentro deste contexto, diante de uma grande compra que precisava realizar para mim, pessoalmente, levantei 3 orçamentos, nos 3 maiores players do segmento específico. E, neste final de semana, de 26 de abril, compilei os 3 orçamentos dentro de uma planilha de Excel. O comparativo resultou em algo assim:

Player 1: 50% dos produtos mais baratos
Player 2: 30% dos produtos mais baratos
Player 3: 20% dos produtos mais baratos

Então, decidi imprimir a minha planilha e ir fisicamente até o Player 1 negociar os outros itens. Contudo eu fiz isso no feriado de 1o. de maio. Infelizmente, o principal item de minha lista, havia mudado de preço, porque a "tabela do mês" havia mudado. Entretanto, o habilidoso vendedor, conseguiu cobrir ou igualar vários preços da concorrência, o que me deu algum conforto, apesar de o orçamento final não ter ficado dentro daquilo que gostaria.

Nesta época tinha o hábito de assistir ao jornal matinal na TV antes de ir ao trabalho e, no dia 05 de maio, na segunda-feira pós-feriado não foi diferente. No intervalo do jornal, o principal item de meu orçamento estava sendo anunciado novamente ao preço de 26 de abril. Eu fiquei extremamente frustrado com a situação e decidi ligar para o SAC da empresa. (Lembre-se, por favor que estamos em 2008).

O SAC direcionou-me para procurar o Gerente da Loja, fisicamente. Coisa que obviamente fiz. O Gerente da Loja apesar de ter explicado a situação toda em detalhes usou as seguintes palavras comigo: "Eu trabalho aqui há 10 anos e, é assim que as coisas funcionam". Em partes, eu sei que fui um ser humano terrível naquela situação, mas, todos nós somos sequestrados ocasionalmente por nossos cérebros reptilianos, então eu respondi a ele: "Pode, por favor, chamar alguém com no máximo 2 anos de experiência para me atender, porque eu estou interessado em gente que tenha visão de mercado e não a visão dos seus micro-processos.".

Este tipo de comportamento. De reação. Precisa servir como um alerta para o despertar...

QUAL O PAPEL DA LIDERANÇA DA EMPRESA NA INOVAÇÃO?

Durante anos fomos educados a seguir em um padrão linear. De comando e controle. O líder comandava e as equipes executavam. Estamos agora diante da quarta revolução industrial e este padrão tem se transformado. E, a inovação, em sua essência precisa fugir a este padrão. Quem habilita esta possibilidade de fugir a este padrão é a liderança. Em essência, o board da empresa e todos aqueles que se denominam líderes da empresa precisam:

1. Adquirir e permitir a tolerância ao erro.
Veja, não falo aqui de condescendência ou paternalismo. Mas, se alguém, dentro da organização quer testar algo novo, algo diferente. Ele deve poder, dentro de um ambiente que integre pessoas, recursos financeiros e meios tecnológicos controlados, poder fazer isso. Estes erros em alguns casos, chegam mesmo a custar algum dinheiro. O segredo é errar rápido, errar pequeno e não repetir os erros. Devemos sim, aprender com eles. Acredite, no longo prazo, pode custar muito mais caro a uma organização fazer sempre tudo do mesmo jeito e não apostar alguns dólares em provas de conceito.

2. Tomar consciência da dicotomia que, em essência, é a inovação.
Existem processos que permitem às pessoas inovarem, mas, inovação não pode seguir processos, aqueles processos instalados e que regem o status quo da companhia. Processo é algo que tem começo, meio e fim. Se é um processo, o seu resultado é previsível. Portanto, se algo diferente sair de um processo existente na companhia, podemos chamar o produto final de anomalia, erro, ou qualquer outra coisa. Tudo, menos inovação. Liberar áreas de inovação e os inovadores que em essência podem estar em quaisquer times da companhia a não seguir processos para testarem coisas novas, é essencial, portanto.

3. Melhorar a forma da companhia de fazer negócios.
No caminho para inovar, o time de inovação ou os inovadores em quaisquer times da companhia, poderão precisar precindir de outros stakeholders e participantes do ecossistema de inovação. Uma start-up, por exemplo. Os mecanismos da companhia e sua forma de fazer negócios podem matar a inovação antes mesmo dela nascer. Quanto tempo o jurídico levará para redigir um NDA? Qual o tamanho da multa presente neste NDA? (que faz todo sentido para um player clássico do mercado, mas nenhum para uma Start-up fazendo uma Prova de Conceito). Quais os requisitos do ponto de vista de segurança de informação e arquitetura de sistemas para se fazer uma POC? Terá o RH questões trabalhistas ligadas a inovação? 

A liderança da empresa precisa "proteger" a inovação da própria organização portanto. Porque a inovação é, em si, um radical livre. Se ela acontecer de fora para dentro, ela não vai esbarrar no modo de operação. Mas, nós queremos provocar a inovação nas nossas equipes, portanto, a liderança da empresa, precisa permitir este tipo de iniciativa.

4. Estar aberto a diferentes tipos de Métricas. Sim, no final das contas, tudo é ROI. Mas, um projeto de inovação tem uma imprevisibilidade associada a ele que não permite, no início, conceber as métricas clássicas de investimento como ROI e Payback. Aqui não há também qualquer condescendência. Um projeto implantado, ainda que em seus estágios iniciais de POC/MVP, deve produzir efeitos em um ou mais KPI's acompanhados pela companhia. Seja Experiência de Cliente, seja produtividade, seja resultado financeiro, seja impacto no desenvolvimento responsável... A liderança deve incentivar novas formas de produção destes resultados e estar aberta aos impactos que eles possam ter em seus KPI's, antes de se focar nos modelos Clássicos de Business Cases.  

5. Por fim, a liderança tem um enorme impacto sobre a forma de observar o "tempo" no tema da inovação. Essa variável é incrivelmente poderosa. A liderança deve estimular a velocidade dos testes até que o primeiro piloto "pare de pé", reduzindo atritos organizacionais e melhorando a forma da organização de fazer negócios com o ecossistema de inovação. Ao mesmo tempo deve entender que, mesmo uma inovação disruptiva, leva tempo até ter seu modelo de negócios pronto para consolidar o seu streaming de resultados. 

Ninguém mais contesta o sucesso do iPhone do ponto de vista de disrupção do mercado de celulares. Mas, pouquíssimas pessoas se lembram de que o primeiro iPhone, o grande causador desta disrupção não tinha:

- AppStore: você só podia usar os softwares desenvolvidos pela Apple.

- Copiar e Colar: levou dois anos para introduzirem esta verdadeira maravilha de life-hacking nos Smartphones da Apple.

- Selfies: Levou algum tempo até surgirem as câmeras frontais... Você precisava ser um contorcionista na época para fazer uma boa foto sua com o celular.

- GPS: Não havia GPS. Muito menos Waze.

- Independência de Computadores: Sim! Para configurar seu iPhone você dependia de um computador. Nada de Cloud ou de configurações automáticas com WiFi.

LET'S GO!

Forme a sua convicção. Líderes no fundo são grandes facilitadores. Não só da inovação, mas do desenvolvimento dos colaboradores, do resultado da companhia e de todo o resto. Portanto, se você é um líder e quer se engajar com o tema, lembre-se de cortar o "não" do seu vocabulário. Esteja à disposição dos seus colaboradores e equipes para habilitá-los a fazer a inovação acontecer.  

Desenvolva a Inovação como prioridade para seus Times e Organização. Se você ainda não estiver convencido do impacto que ela pode ter para sua organização, que tal isso?

Em 31% das 150 empresas mais inovadoras do Brasil, a Inovação é a prioridade número 1 e, eles atingiram 70% das metas da companhia para o ano.

Em 59% delas, a Inovação está entre as 3 maiores prioridades e, neste caso, eles atingiram 56% das metas da companhia.

Já em 10% delas, a Inovação figura como uma das prioridades, sem ordem de importância e, o atingimento das metas é de 37%.

Fonte: Strategy& Valor Econômico - Ranking das 150 Empresas Mais Inovadoras do Brasil 2019. 

Por fim, lembre-se, as palavras podem até mover, mas os exemplos arrastam. Se você é um líder e quer que suas equipes desenvolvam a inovação da empresa. Comece por você!

Nos vemos no mês que vem... Vamos percorrer o tema "Equipe engajada com Inovação".   

Ah! Se você ficou curioso com a história do início deste artigo, sim, eu consegui meu desconto.