A 'Neuropolítica' pode hackear eleitores direcionando sua intenção de voto?

Albert - News

16 Agosto, 2018

Especialistas dizem poder adivinhar suas preferências políticas que você não expressa a partir de sinais que você não sabe que está produzindo. Isso vai além do que a Cambridge Analytica pôde fazer com os dados de perfis do Facebook. Especialistas sempre buscam ajustar o discurso dos candidatos ao desejo dos eleitores. O que está surgindo são os consultores em neuropolítica. Assessores especializados em neurociência que ajudam a controlar todas as mensagens dos candidatos. Candidatos nunca vão admitir a contratação e uso destes métodos, mas o que sabemos é que eles estão em franca atividade. "Nada é mais importante para um político do que a vitória", diz Dan Hill, especialista em expressões faciais que tem como ex-cliente, no ano de 2012, o presidente do México, Enrique Peña Nieto. A tendência tem aumentado neste ano de 2018 com as eleições legislativas de 2018.

As ferramentas são muitas. Por exemplo, numa análise de discurso através de EEG (eletroencefalograma) é possível medir a atividade cerebral para buscar o melhor ajuste de um discurso. A atividade elétrica no lado esquerdo do córtex cerebral sugere que as pessoas estão fazendo muito esforço para entender uma mensagem política. Já uma atividade semelhante no lado direito pode revelar o momento exato em que o significado da mensagem é compreendido. Com esses tipos de insights, as campanhas podem refinar uma mensagem para maximizar sua força.

A ideia é focar no "Sistema 1" do cérebro, denominado assim por Daniel Kahneman, psicólogo ganhador do Prêmio Nobel em Economia, e escapar do "Sistema 2". O "Sistema 1" é mais rápido e instintivo, enquanto o "Sistema 2" necessita de mais tempo e mais raciocínio para a tomada de decisão.

Darren Schreiber, professor de Ciência Política na Universidade de Exeter e autor de Your Brain is buid for politics, que realizou scans cerebrais de atitudes políticas, admite que as tecnologias são preocupantes. A democracia assume a presença de atores racionais, capazes de digerir informações de todos os quadrantes políticos e chegar a conclusões fundamentadas. Se os neuroconsultores são mesmo tão bons quanto alegam em sondar os pensamentos mais íntimos das pessoas e mudar suas intenções de voto, isso coloca essa suposição em questão. "Somos suscetíveis de várias maneiras, e não estamos cientes de nossa suscetibilidade", diz Schreiber. "O fato de que as atitudes podem ser manipuladas de maneiras que não conhecemos tem muitas implicações para o discurso político." Schreiber diz ainda, "Eu não acho que é hora de correr em pânico, mas eu não acho que podemos ser otimistas sobre isso."

Para se aprofundar mais no assunto, leia aqui em MIT Tec Review.