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Metodologias Ativas na Educação - O Presente - por Max Franco

Artigo

25 Abril, 2021

Quintino Cunha foi um advogado, escritor e poeta cearense, nascido na década de 1870 e passava muito do seu tempo nos cafés da Praça do Ferreira no centro de Fortaleza. Há muitas histórias divertidas sobre o sujeito.

Quintino Cunha | ZÉducando

No início do século XX, existiam em Fortaleza dois jornais de grande circulação.

Quintino Cunha era cronista de um deles e outro jornalista, que se tornou seu desafeto por defender opiniões contrárias, escrevia noutro.

Certa vez, Quintino, que era muito popular na cidade, fazia aniversário, e os amigos prepararam uma festa surpresa para ele. Entretanto, logo depois dos parabéns, entrou na sala justamente o seu desamigo do outro jornal. É claro que gerou um fuzuê na festa. Ainda mais, porque ele trazia um grande pacote nas mãos, com um papel floreado e um laço vermelho. O sujeito entrou sorrindo um sorriso felino e entregou o presente ao Quintino, o qual, mesmo desconfiado, rasgou o pacote revelando o seu conteúdo: um enorme par de chifres!

Quintino Cunha era famoso por ser uma figura de piada fácil, sempre na ponta da língua. A gritaria dos presentes foi automática. E, depois, todos esperaram a reação de Quintino. Entretanto, ele, para a surpresa do grupo, não fez nem disse nada e guardou o objeto constrangedor.

Porém, todos sabiam que iria ter volta. Afinal, conheciam o espírito jocoso do advogado.

Não obstante, passaram-se dias, semanas e meses e não houve nem sequer um ato ou linha de comentário de Quintino sobre o episódio. Meses depois, veio o aniversário do jornalista desafeto. Todos estavam esperando que o Quintino viesse com a sua desforra. No dia da festa de aniversário do sujeito, a nata da sociedade fortalezense estava presente, mas, obviamente, Quintino não. Todavia, antes do fim da festa, quem aparece na casa do aniversariante? Quintino Cunha trazendo nas mãos um presente de mesmo tamanho. Todos ficaram ansiosos para saber o que seria.  O jornalista recebeu o presente com uma expressão grave. Ele sabia que Quintino não deixaria barato o que fizera meses atrás. Ele, então, tira o laço, rasga o papel e, para a surpresa geral, expõe um belo buquê de rosas! è claro que ninguém entendeu nada e, muito menos, o aniversariante.

Quintino Cunha, então, revela a sua intenção pedindo ao outro que leia publicamente o cartão que está entre as flores: quem tem flores, dá flores.

- Cada um só dá o que tem.

Esta anedota da vida real tem mais de cem anos, mas continua sendo atual, porque, de fato,  só podemos dar o que temos.

Ninguém dá amor sem ter, nem conhecimento.

Ninguém ensina sem saber. Ninguém consegue ser referência de ética sem ser ético.

Ninguém tem estatura moral de pedir justiça sem ser justo.

Ninguém dá o que não tem.

Esta premissa servia há 100 anos e continua servindo ainda hoje.

E sempre.