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Ponto de Contato - ESG como valor para os negócios - por Eliane El Badouy

Artigo

28 Fevereiro, 2021

low angle photography of trees during daytime

Foto: Unsplash


Não é de hoje que três letras vêm ganhando protagonismo nas decisões empresariais.

ESG, na sigla em inglês (environmental, social and governance), como são conhecidas internacionalmente refere-se às melhores práticas ambientais, sociais e de governança. Mas não são apenas patrocinadores e filantropos conscientes que filtram o ESG. Quando se trata de negócios; sustentabilidade, igualdade e um registro ambiental limpo são facetas essenciais do desempenho financeiro - e investidores mais experientes estão começando a adotar essas determinantes.


Esses fatores vêm recebendo atenção mundial por estarem associados a negócios sólidos, baixo custo de capital e melhor resiliência contra riscos associados a clima e sustentabilidade. 


Um levantamento da área de tendências do Google mostrou que o interesse pelo conceito ESG atingiu seu ponto mais alto dos últimos cinco anos no Brasil. O Google Trends mostrou ainda que globalmente o tema nunca foi tão buscado quanto em 2020. No ano passado, também foram recorde as buscas por "investimento ético" em nível mundial e, no Brasil, chegaram a seu nível mais alto dos últimos cinco anos.


Durante um painel sobre 'Stakeholder Capitalism' em Davos em janeiro de 2020, Jim Snabe, presidente da gigante industrial Siemens, observou que a empresa está colocando seu "sistema de remuneração para o CEO e a equipe executiva em uma base ESG". Isso aponta que estamos num momento particularmente importante, especialmente após o estabelecimento das novas regras de governança corporativa do Reino Unido do Financial Reporting Council (FRC). Os regulamentos enfatizam mais a cultura corporativa e os relatórios de remuneração para promover melhorias na integridade, igualdade e diversificação dos negócios. Portanto, a identificação de riscos reputacionais latentes, decorrentes de riscos ESG nunca foi tão crítica - especialmente ao atrair capital novo. 


Aqui no Brasil, como reflexo das práticas mundiais, grandes companhias do país começam a colocar também no cálculo da remuneração do alto escalão métricas sociais e de governança além das tradicionais métricas de desempenho financeiro e de crescimento da companhia que usualmente entram na conta das grandes empresas na hora de formar o salário de um executivo.


Isso não significa, que os gestores, acionistas e conselheiros das empresas começarão a abraçar árvores ou adotar outros estereótipos ecológicos.


O estudo EY 2018 Global Climate Change and Sustainability Services de investidores institucionais revela um consenso global de que as informações ESG agora são críticas para a tomada de decisões dos investidores. Investidores em todo o mundo esperam relatórios mais amplos e úteis de informações relevantes sobre desempenho não financeiro, que estão usando cada vez mais para avaliar a criação de valor a longo prazo.


Após anos de relatórios esporádicos, geralmente promocionais, de informações não financeiras, os emissores enfrentaram o desafio de atender às demandas dos investidores por divulgações não financeiras de alta qualidade. O primeiro passo para isso é entender melhor os tópicos materiais de uma organização ou setor: isto é, determinar quais tópicos, medidos com quais métricas, produzirão a visão mais útil dos riscos e oportunidades que geram valor a longo prazo de suas empresas. Maior transparência e dados consistentes e comparáveis ​​sobre esses tópicos também podem ajudar a restaurar a confiança nos negócios em um momento em que a credibilidade das instituições corporativas está em risco.


O Edelman Trust Barometer de 2020 - uma pesquisa anual de credibilidade revelou que o governo, as empresas e a mídia não são confiáveis. Na maior parte, essa falta de fé é impulsionada pela desigualdade. Para as empresas, maior cinismo se traduz em desinvestimento. Nunca houve um momento mais apropriado para considerar o ESG e abraçar a transparência.


A pressão está sobre os Comitês de Remuneração (REMCOs) para incentivar o cumprimento das medidas ESG adequadas. Em um esforço para reforçar a conformidade, as REMCOs também estão citando correspondência entre boas políticas de remuneração e criação duradoura de valor para o investidor. O fato de os investidores começarem a enfatizar os fatores ASG é compreensível. O Código de Governança Corporativa do Reino Unido apoia o direito do investidor a essas informações, incentivando políticas de remuneração na promoção da diversidade e da sustentabilidade.


No Brasil, os parâmetros ESG estão em seu estágio inicial. As áreas que cuidam do assunto nas empresas são pequenas, quando existem, e a maior parte delas respondem a demandas de investidores globais localizados fora do Brasil, que estão integrando esses parâmetros em seus próprios processos de investimento.


Questões relacionadas a escândalos de corrupção e crises de reputação têm concentrado a atenção dos investidores, fazendo com que o foco de interesse no Brasil seja para governança corporativa, porém, para os próximos anos, temas ambientais e sociais ganharão ainda mais relevância junto aos investidores.


Além do gerenciamento de riscos, é também uma maneira de identificar oportunidades de investimento. A avaliação e o gerenciamento detalhado dos riscos ESG, particularmente para investimentos em mercados emergentes, podem revelar oportunidades que, de outra forma, poderiam ser descartadas.


A avaliação de ESG precisa ir além do investimento, deve ser uma análise mais profunda sobre como cada fator afeta custos, receitas e custos de capital e benefícios econômicos, para que possam ser considerados holisticamente. Para facilitar isso, investidores, líderes de pensamento, governos e reguladores precisam trabalhar juntos para encontrar uma maneira melhor de quantificar o impacto dos fatores ESG.


Casos como os de Mariana e Brumadinho exemplificam bem esses impactos em âmbito social e ambiental. Assim como os efeitos da pandemia de Covid19, na reputação das marcas e empresas, de acordo com um Relatório Especial do Edelman Trust Barometer, realizado em 12 países, inclundo Brasil com 12.000 pessoas.


Existe unanimidade nos mercados (90% globalmente) da expectativa de que as marcas façam tudo o que podem para proteger o bem-estar e a segurança financeira de seus funcionários e fornecedores, mesmo que isso signifique perdas financeiras substanciais até o fim da pandemia. 

As marcas devem encontrar soluções, em vez de vender entusiasmo ou imagem. Elas precisam ser tangíveis e rápidas, não impressionistas e conceituais.

Os entrevistados desejam uma conexão emocional, o que significa ajudá-los a ficar perto de pessoas das quais estão sendo forçados a se afastar fisicamente (83%).

Eles também querem uma conexão humana, incluindo mensagens de marca que comuniquem empatia e apoio às lutas que enfrentam (83%). 

Desejam canais sociais da marca para facilitar um senso de comunidade e oferecer apoio aos necessitados (84%). 

Ouvir das marcas que elas usam sobre o que estão fazendo em resposta à pandemia é reconfortante e tranquilizador para 65% dos entrevistados.


Enfim, estamos entrando numa nova era do capitalismo onde a tomada de decisão deve estar apoiada em pilares sólidos de Proposito, Reputação e Sustentabilidade SOCIAL, AMBIENTAL e ECONÔMICA.



* Com informações via: Valor Econômico, Valor Invest, O Estado de S.Paulo, Exame, Fórum Econômico Mundial.

Eliane El Badouy Cecchettini, Badu como é conhecida no mercado, é publicitária, pós-graduada em Marketing pela ESPM, vencedora de 2 categorias do prêmio de Mídia Estadão - Pesquisa de Mídia e Gran Prix, premiada com Profissionais do Ano Rede Globo, co-autora de 2 livros "Inovação em Sala de Aula" e "Métodos de Ensino para Nativos Digitais", fruto de seus estudos sobre comportamento e consumo de mídia dos nativos digitais. Também é colunista da Revista Eletrônica BREAK do Grupo EPTV - afiliada Rede Globo -, e da coluna Ponto de Contato da Inova Business School. É coordenadora de Futuro e Tendências na Educação do IBFE - Instituto Brasileiro de Formação de Educadores, professora e coordenadora da Pós-Graduação de Economia Criativa, Master de Negócios de Impacto  e professora na Pós-Graduação de Neuromarketing da Inova Business School. Seus mais de 30 anos de carreira foram construídos em grandes grupos de comunicação como Editora Abril, Folha de S.Paulo e Sony Enterteniment Television e agências de propaganda. Em sua trajetória profissional atendeu contas como Mc Donald’s, Unilever, Johnson & Johnson, FIAT, Bradesco, L'oréal, Tetra Pak, 3M, CPFL, Souza Cruz, Internacional Paper, entre outras. É Head de Media Intelligence & Consumer Insights da Targget House, Conselheira TrendsInnovation, Associate Partner da Inova Consulting para Futuro, Tendências & Consumer Insights, além de pesquisadora do comportamento, mecanismos de atenção e do consumo de mídia contemporâneos.