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Inteligência Artificial para Negócios - TI é essencial mas está perdendo o status de celebridade - por Fabiano Castello

Artigo

12 Outubro, 2020

O mundo não é dos "babacas", mas eles existem. Há algum tempo tive oportunidade de interagir com um, e a ele somente posso agradecer a inspiração para este rabisco. Por acaso é um "babaca" que trabalha em TI e, para encurtar história, se negou a responder uma pergunta que eu fiz porque "era muito básica" e que eu deveria trazer para conversa alguém de "melhor nível técnico". O nível de arrogância do jovem lembrou a minha própria arrogância, quando eu comecei na carreira, ainda que fossem outros tempos: na Arthur Andersen dos anos 1990, maior (e melhor) firma de auditoria do mundo na época, e infelizmente hoje falecida, arrogância "meio que" fazia parte do nosso "job description". Digamos que, de certa forma, éramos treinados para sermos arrogantes. Mas o ponto é que a postura do jovem rapaz (talvez muito técnico, mas pouco experiente nos "soft skills" cada vez mais tão requeridos), me fez refletir sobre o papel de TI nas organizações.

A computação nos negócios veio crescendo desde os anos 1960, mas pode-se dizer que entre meados dos anos 1980, e durante todo os anos 1990, passou a ser prevalente nas organizações, e as áreas de TI ganharam proeminência a ponto de se tornarem celebridades, dado o nível de dependência que foi se criando em torno delas.

Só que, neste momento, estamos vivendo uma outra revolução: o empoderamento dos usuários. Aqueles que sempre dependeram de TI agora colocam as "asinhas de fora" usando novas tecnologias como, por exemplo, as plataformas de desenvolvimento de aplicativos que não necessitam de conhecimento em programação, chamadas "low-code/no-code".

Essas plataformas permitem que os usuários, ao invés abrir uma solicitação junto a área de TI, criem rapidamente aplicativos para otimizar processos e resolver problemas de negócio. Essas plataformas possuem templates de formatos, de formulários, de elementos e de objetos que agilizam a construção desses aplicativos. É claro que ninguém vai desenvolver um sistema de gestão integrado numa plataforma dessas, mas existem muitas oportunidades no dia a dia onde essas plataformas resolvem o problema de forma rápida. Neste artigo da Forbes[1] um caso interessante e, abaixo, um caso real na área de saúde.

 


Na UTI de qualquer hospital são utilizadas várias drogas que requerem um cálculo da dose de medicamento que deve ser injetado automaticamente no paciente. O cálculo não é simples, porque envolve diversas variáveis, bem como depende da droga que precisa ser injetada. Tradicionalmente, o médico precisava ir ao posto de enfermagem para usar uma planilha em Excel e fazer os cálculos, o que tomava muito tempo de um profissional caro. Usando uma plataforma "low-code", foi possível desenvolver rapidamente (em dias, não em meses) uma calculadora para solucionar o problema, de forma que o médico consegue definir a dosagem do medicamento no "beira-leito". A um custo mínimo uma solução rápida e disponível via web e celular (iOS e Android). Envolvimento da área de TI: zero.

É importante entender que TI não deixou de ser relevante. Muito pelo contrário: é mais relevante do que nunca! Quem explica esse aparente paradoxo é Nicholas Carr, que em 2003 escreveu na Harvard Business Review um dos artigos mais polêmicos e interessantes daquele ano: "IT doesn’t matter" [2]. Carr examina a evolução da tecnologia da informação nos negócios e mostra que ela segue um padrão muito semelhante ao de tecnologias anteriores, como ferrovias e energia elétrica. Por um breve período, à medida que estão sendo incorporadas à infraestrutura de negócios, essas "tecnologias de infraestrutura" abrem oportunidades para que empresas com visão de futuro obtenham fortes vantagens competitivas. Mas, à medida que sua disponibilidade aumenta e seus custos diminuem - conforme se tornam onipresentes - eles se tornam commodities: são mais essenciais do que nunca, mas do ponto de vista de estratégia de negócios, elas se tornam invisíveis.

Diz o ditado que "pior que ser pobre é ser pobre tendo um dia sido rico". Talvez seja essa a crise que TI: mais essencial do que nunca, mas cada vez mais longe dos holofotes.

Abraços e até o mês que vem!


Referências:

[1] https://www.forbes.com/sites/servicenow/2020/06/24/welcome-to-the-low-codeno-code-revolution.

[2] https://hbr.org/2003/05/it-doesnt-matter

O crédito da imagem é do site www.epocanegocios.com.br

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